domingo, 20 de janeiro de 2019

Banda Devassa - "Marina Julia" - Praça Marechal Mauricio Cardoso. Vídeo ...

Devassa Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).


"SOBRE VERMELHOS E AMARELOS"... com "Drummond"...

"Há vário motivos para ODIAR uma pessoa, e um só para AMÁ-LA... este PREVALECE". (Carlos Drummond de Andrade).

>>> "O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando".


Ah... meu "caro Drummond", hoje remexendo em coisas que julgava antigas me deparei com essa sua crônica de 1966. Reli o texto e senti você, assim tão vivo... assim tão próximo e tão presente... como se nunca tivesse partido.

E o seu texto, tantas vezes lido, hoje mexeu comigo de um jeito... parecia que você tinha acabado de escrevê-lo. Como admiro essa sua capacidade de ver as coisas e de falar sobre elas, de fazer da verdade de ontem a verdade de hoje !!!!
Da sua verdade, a verdade de muitos !!!!

"A ordem, meus devassianos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, (escancará-la), é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a devassa que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vem trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, na falta de ar" !@!!

Quanto ao "Chico"... "Drummond", prefiro o (Chico poeta), o Chico do teatro, o Chico dos palcos, o (Chico "poeta-político").

>>> "Não o Chico diminuído, reduzido a um palanque, qualquer que seja, em favor de quem quer que seja" !@!!

"A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a ideia de como andávamos precisando de amor.

Pois a banda não vem entoando marchas militares, dobrados de guerra. Não convida a matar o inimigo, ela não tem inimigos, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência.

Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais".

É, meu querido, andávamos mesmo precisando de amor !!!!
E, hoje, o meu senso de urgência me leva a dizer que continuamos precisando de amor mais ainda, pois temos ouvido cantos de guerra e somos incitados a matar o inimigo...

Mais do que nunca precisamos de um pouco de lirismo e cordialidade, de saber falar e ouvir. As palavras não deveriam ser munição contra quem pensa diferente de nós.

Mal escolhidas, elas podem causar um grande estrago nas relações humanas, mas quando escolhidas com cuidado quanto poder revelam.

"Meu partido está tomado. Não da ARENA nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução...

Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão".

O meu partido também, meu caro amigo, "não é Vermelho"... "não é Amarelo". Não tenho partido, nem posso aceitar irmãos divididos, amigos brigando por partidos, minorias sendo agredidas. Não posso aceitar meu Brasil dividido. Quanto mais dividido, mais fraco ele fica...

"Se uma banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira.

Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam.

E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores.

E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda (devassa), Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente".

Sim... "coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam".

E se, no momento, o nosso Chico não pode colocar de novo a banda na rua, espalhando as sensações de alegria, esperança e solidariedade que as bandas naturalmente despertam, vamos nós nos inspirar no jeito sereno de Drummond interpretar a realidade e aderir ao desejo dele de suavizar o momento que estamos vivendo... "musicalizando a nossa alma" e acrescentando mais cordialidade em nosso jeito de conviver.

>>> "A banda passou, mas precisamos nos esforçar para mantê-la viva !@!! - "Dirce de Azevedo Lima".

(Banda Devassa-Rio - 20 de Janeiro de 2019).

Nenhum comentário:

Postar um comentário