Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).
7 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER
SOBRE OS AROMAS DO VINHO.
7 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER
SOBRE OS AROMAS DO VINHO.
Você tem algum amigo que pega a taça de vinho, enfia no nariz e fica
dizendo coisas no estilo "aroma de frutas vermelhas"... "com um toque de
chocolate" ou "algo de mineral"? Será que ele não está inventando tudo
para parecer bacana? Pode ser.
Muita gente repete feito papagaio o que lê nos contra-rótulos das garrafas. Não parece bacana, parece chato.
No entanto, de fato, no vinho existem centenas de componentes
"aromáticos" já identificados em laboratórios de química. Outros tantos,
ainda não foram isolados em laboratório, mas são reconhecidos há anos
por degustadores profissionais experientes. E qualquer um com um nariz
normal é capaz de perceber boa parte deles. Basta treinar.
Mas
para que saber se o vinho tem notas cítricas ou aroma de mel? Não que o
mundo precise de mais um "enochato", mas saber reconhecer aromas é
importante para conseguir identificar o estilo de vinho de que você
gosta. Só assim fica um pouco menos difícil comprar uma garrafa que você
não conheça.
Fora que é um grande prazer !!!! Confesso, porém,
que vicia. Não é muito difícil me pegarem com a cara enfiada numa taça
de vinho como um "noia numa lata de cola".
Para mim, cheirar o
vinho às vezes é até mais gostoso do que bebê-lo. Tento não ser a chata
da mesa, não ficar fazendo comentários. Mas... às vezes, escapa.
A SEGUIR ALGUMAS DICAS QUE VÃO AJUDÁ-LO A SE TORNAR UM "CHEIRADOR DE PRIMEIRA".
1 - OS AROMAS SÃO SEPARADOS EM FAMÍLIAS:
Nos cursos, costumamos levar taças, com frutas, ervas, temperos, para
que as pessoas treinem seu olfato. Também taças pretas, nas quais não dá
para se ver o que tem dentro, para que tentem reconhecer os aromas sem a
ajuda dos olhos.
Algumas vezes, as pessoas adivinham de cara do
que se trata. Outras, não têm a menor ideia. Em boa parte das ocasiões,
no entanto, elas reconhecem uma família: "é algo cítrico", "uma erva",
"tem algo de carne". Conseguir saber de que família é um aroma quando se
está cheirando um vinho já é uma vitória.
Os próprios
especialistas dividem os aromas do vinho em "famílias". Segundo "Émile
Peynaud", considerado o pai da enologia moderna, os aromas se agrupavam
em: "florais" (rosa, violeta, jasmim, acácia, flores brancas),
"frutados" (cereja, morango, ameixa, pêssego, limão, laranja, maçã),
"especiarias" (pimenta-do-reino, cravo, canela, noz-moscada), "animais"
(carne, pelo molhado, couro), "vegetais" (capim, ervas, pimentão, chá),
"minerais" (petróleo, pedra de isqueiro, plástico), "balsâmicos"
(resinoso, pinho, eucalipto), "químicos" (fermento de pão, enxofre,
esmalte de unha, cola, removedor de esmalte), "empireumáticos"
(associados a calor e fogo, como alcatrão, tostado, caramelo, café
torrado) e "outros"... (chocolate, mel, caixa de charutos, sous-bois).
Hoje é muito comum se usar uma "roda de aromas", na qual se faz uma
separação parecida, mas muitas vezes se tenta também estabelecer a
origem desses aromas.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Sabendo quais as famílias e os aromas que se encontram nos
vinhos, você começa a distingui-los e vai estabelecendo suas
preferências.
2 - OS AROMAS MUDAM COM O TEMPO:
Por origem, os aromas se separam em primários, secundários e
terciários. Os "aromas primários" são aqueles que vêm da uva e do
terroir diretamente, como os aromas florais e frutados. Os "secundários"
surgem no processo de vinificação, como os aromas de manteiga ou
fermento de pão. Os "terciários" se originam do envelhecimento na
garrafa, como os aromas
terrosos ou de frutas secas. Os aromas
primários e secundários são mais fortes nos vinhos jovens. Conforme um
vinho vai envelhecendo, esses aromas vão sumindo e vão se desenvolvendo
"aromas terciários". Caso se trate de um bom vinho e não estrague antes,
é claro. "Esses aromas mais
evoluídos" são o que se chama
"bouquet". Existem ainda os aromas defeituosos que ocorrem
principalmente por "contaminação" durante o processo de vinificação ou
por mau armazenamento.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Se você gosta de vinho frutado ou floral, não vá comprar um
vinho velho. Se gosta de um toque terroso, um aroma de frutas secas,
escolha um já com uma certa idade.
3 - TUDO COMEÇA COM A UVA:
Já ouvi dezenas de enólogos importantes dizerem que "seu trabalho
consiste principalmente em não estragar o produto que chega do campo".
Acho um certo exagero e um tanto de falsa modéstia, mas, de fato, os
aromas e outras propriedades do vinho dependem da "uva". Cada variedade
tem seus aromas característicos.
Eles se desenvolvem junto com o
fruto e mudam com o amadurecimento do "bago". Existe um ponto que os
enólogos consideram como o ideal de amadurecimento aromático, que muitas
vezes não foi atingido ou já passou no momento da colheita. Como assim,
alguém colhe a uva antes de ela ter
desenvolvido todos os seus aromas ou depois desses aromas terem começado a diminuir?
Em alguns casos, os produtores são obrigados a fazer isso porque o
"grau de açúcar" ainda não chegou no ponto ideal ou começou a subir
demais, o grau de acidez começou a baixar, os dois juntos ou aconteceu
uma tempestade de granizo, por exemplo.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Saber os aromas característicos das diversas uvas ajuda
muito na hora de sua escolha. O resto é mera curiosidade, porque de
qualquer forma você terá de confiar no que diz o rótulo ou a ficha
técnica para saber se o vinho tem uma boa "expressão aromática" ou não.
4 - A TERRA E O CLIMA MUDAM A UVA:
Uma mesma uva pode ter diferentes aromas dependendo do solo, do clima,
da quantidade de sol que recebe, da altitude e e de uma série de fatores
relacionados ao local onde foi plantada. Até o que está plantado no
terreno ao lado pode influenciar.
Não tem muitas provas
científicas de todas essas influências, mas a experiência mostra, por
exemplo, que vinhedos de regiões mais frias, como a Borgonha, rendem
vinhos com aromas de frutas frescas e vinhedos de regiões quentes, como o
Alentejo, dão vinhos com aromas de frutas madura, quase cheirando a geleia.
Onde o solo é mais rochoso, tende a aparecer o tal do aroma mineral.
Regiões com muitas horas de sol no período de desenvolvimento da fruta
facilitam um amadurecimento mais pleno e, portanto, uma maior
complexidade de aromas.
E assim vai.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Muita coisa, se você conseguir realmente dominar todos os
fatores. Isso aumentaria muito suas chances de prever o estilo de cada
vinho. Mas é bem difícil conhecer todos esses detalhes. Decore só a
história dos vinhos mais frescos ou mais maduros.
5 - A MÃO DO HOMEM:
A "natureza sozinha não faz todo o trabalho". Mesmo nos vinhos
orgânicos ou biodinâmicos, o produtor decide entre diferentes processos
de "vinificação e amadurecimento", e esses processos determinam a
diversidade, a qualidade e a "intensidade dos aromas".
O
primeiro trabalho do enólogo é evitar a formação de aromas
desagradáveis. Nos vinhos brancos, principalmente, os cuidados começam
logo após a colheita, mantendo a temperatura baixa para que não haja
"fermentação espontânea", evitando o contato do mosto com o oxigênio
para miniminizar aromas oxidativos, rançosos.
A fermentação do
mosto dos brancos, em geral, não é feita em contato com as cascas para
não haver excesso de extração de taninos, mas antes de iniciar a
fermentação, há o contato pelicular, por um breve período, para extrair
aromas. Nos tintos, o mosto fermenta com a casca, mas se houver um
período de contato antes da fermentação há uma potencialização dos
aromas.
Nos espumantes, o tempo de contato com as "leveduras" é
muito importante: quanto mais tempo o vinho ficar em contato com a borra
das leveduras (que são retiradas no fim do processo) maior complexidade
de aromas. O tipo de levedura selecionada, a temperatura da
fermentação, fazer ou não "fermentação malolática", tudo isso
influencia. Mas são detalhes muito técnicos.
Já o papel do "carvalho" no aroma do vinho é mais fácil de entender. Preste atenção em três fatores: a "idade", a
"origem" e a "tosta da madeira das barricas" ou tonéis por onde passou o
vinho. Um "barril de segundo uso" transfere menos aroma para o vinho do
que um "barril novo em folha". O carvalho francês passa um tipo de
aroma, o americano, outro. O barril de madeira é queimado por dentro.
Diferentes graus de queimado resultam em diferentes aromas. Veja uma
lista do que esperar nos vinhos tintos:
>>> "Tintos em carvalho francês" - côco, nozes, cravo, pimenta preta, canela, menta.
>>> "Tintos em carvalho americano": baunilha, noz-moscada,
castanha, coco, especiarias (cominho, sálvia), frutas secas.
>>> "Tintos em barricas de tosta leve": casca de banana, mel,
creme de cacau, chocolate branco, resina, madeira de serraria. média
>>> "Tintos em barricas de tosta média": amêndoa tostada, caramelo, chocolate, tabaco, café.
>>> "Tintos em barricas de tosta forte": pão tostado, fumo, folhas secas, grafite, chocolate preto.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Muito, cada detalhe muda tudo. Mas é impossível decorar
tudo. Concentre-se no que dá para lembrar: a influência do carvalho nos
tintos e o contato com as borras, ou lias, nos espumantes.
6 - NÃO É MÁGICA... É CUÍMICA:
As pessoas vivem me perguntando se um vinho tem aroma de frutas
vermelhas ou de chocolate porque puseram realmente frutas ou chocolate
no tanque na hora de fazer o vinho. Não!!!!
Vinho é feito apenas
de uva e levedura. Um vinho tem cheiro disso ou daquilo porque ele tem
compostos químicos idênticos ou similares a esses itens. O "Beaujolais
Noveau", por exemplo, tem cheiro de banana porque, assim como as
bananas, ele é rico em "acetato de isoamila".
Como eu disse lá
em cima, não é invenção e nem mágica, é... "química". Centenas de
compostos aromáticos presentes nos vinhos já foram identificados em
laboratórios. Ésteres, álcoois, aldeídos e cetonas, acetatos, lactonas,
cetamidas secundárias, compostos nitrogenados, compostos de enxofre,
éteres, furanos e epóxidos, um monte de nomes difíceis dos quais a gente
talvez tenha ouvido falar na escola.
Lembro de bem poucos deles. Mas, se os cientistas dizem que eles são os responsáveis por essa "mágica", a gente acredita.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Mata a sua curiosidade e só...
7 - É PRECISO SABER APRECIÁ-LOS:
80% do prazer que se extrai de um vinho (tirando os momentos de
"euforia alcoólica"... é claro) vem de "seus aromas". Muito do que a
gente "considera paladar" é, na verdade, "aroma". Paladar é só doce,
salgado, amargo, azedo e o tal do "umami". Gosto de cereja é a
combinação do açúcar e da acidez da fruta agindo na boca com os aromas
que chegam pela via interna até o nariz.
Então, se você quer
aproveitar um vinho, outra bebida ou mesmo pratos mais complexos, "é bom
desenvolver o potencial de seu nariz". Ele não é pequeno. Estima-se que
o ser humano seja capaz de identificar 10 mil aromas diferentes. Esse
trabalho é feito em conjunto pelos receptores olfativos, que ficam na
cavidade nasal, e o bulbo olfatório, que fica perto, mas já no cérebro.
Lá as sensações são registradas e decodificadas.
Em primeiro lugar, é preciso respirar fundo, porque os receptores estão escondidos e protegidos na parte superior do nariz.
Em segundo lugar, mais importante, você precisa ter uma biblioteca de aromas na sua cabeça. Seu cérebro só
identifica um aroma se ele tem um registro muito claro desse aroma. E a
gente meio que se desacostumou de cheirar os alimentos.
Outro
dia, eu estava cheirando as frutas no sacolão aqui perto de casa e uma
mulher chegou ao meu lado e disse meio em tom de brincadeira:
>>> "Posso perguntar por que você está cheirando as frutas?".
>>> "Porque se elas não tiverem cheiro, não terão gosto de
nada", (respondi). Sugiro que, sempre que puder, você cheire frutas,
carnes, ervas, flores. E preste atenção nos aromas. Se puder colocá-las
numa taça de vinho... melhor. Isso concentra os aromas.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> "Muda radicalmente". Você passa a perceber aromas que nem
sabia que existiam. Começa a fazer ligações entre eles. E a experiência
de beber um vinho fica mil vezes mais rica.
(Banda Devassa - Rio de Janeiro, 18 de Junho de 2018).
dizendo coisas no estilo "aroma de frutas vermelhas"... "com um toque de
chocolate" ou "algo de mineral"? Será que ele não está inventando tudo
para parecer bacana? Pode ser.
Muita gente repete feito papagaio o que lê nos contra-rótulos das garrafas. Não parece bacana, parece chato.
No entanto, de fato, no vinho existem centenas de componentes
"aromáticos" já identificados em laboratórios de química. Outros tantos,
ainda não foram isolados em laboratório, mas são reconhecidos há anos
por degustadores profissionais experientes. E qualquer um com um nariz
normal é capaz de perceber boa parte deles. Basta treinar.
Mas
para que saber se o vinho tem notas cítricas ou aroma de mel? Não que o
mundo precise de mais um "enochato", mas saber reconhecer aromas é
importante para conseguir identificar o estilo de vinho de que você
gosta. Só assim fica um pouco menos difícil comprar uma garrafa que você
não conheça.
Fora que é um grande prazer !!!! Confesso, porém,
que vicia. Não é muito difícil me pegarem com a cara enfiada numa taça
de vinho como um "noia numa lata de cola".
Para mim, cheirar o
vinho às vezes é até mais gostoso do que bebê-lo. Tento não ser a chata
da mesa, não ficar fazendo comentários. Mas... às vezes, escapa.
A SEGUIR ALGUMAS DICAS QUE VÃO AJUDÁ-LO A SE TORNAR UM "CHEIRADOR DE PRIMEIRA".
1 - OS AROMAS SÃO SEPARADOS EM FAMÍLIAS:
Nos cursos, costumamos levar taças, com frutas, ervas, temperos, para
que as pessoas treinem seu olfato. Também taças pretas, nas quais não dá
para se ver o que tem dentro, para que tentem reconhecer os aromas sem a
ajuda dos olhos.
Algumas vezes, as pessoas adivinham de cara do
que se trata. Outras, não têm a menor ideia. Em boa parte das ocasiões,
no entanto, elas reconhecem uma família: "é algo cítrico", "uma erva",
"tem algo de carne". Conseguir saber de que família é um aroma quando se
está cheirando um vinho já é uma vitória.
Os próprios
especialistas dividem os aromas do vinho em "famílias". Segundo "Émile
Peynaud", considerado o pai da enologia moderna, os aromas se agrupavam
em: "florais" (rosa, violeta, jasmim, acácia, flores brancas),
"frutados" (cereja, morango, ameixa, pêssego, limão, laranja, maçã),
"especiarias" (pimenta-do-reino, cravo, canela, noz-moscada), "animais"
(carne, pelo molhado, couro), "vegetais" (capim, ervas, pimentão, chá),
"minerais" (petróleo, pedra de isqueiro, plástico), "balsâmicos"
(resinoso, pinho, eucalipto), "químicos" (fermento de pão, enxofre,
esmalte de unha, cola, removedor de esmalte), "empireumáticos"
(associados a calor e fogo, como alcatrão, tostado, caramelo, café
torrado) e "outros"... (chocolate, mel, caixa de charutos, sous-bois).
Hoje é muito comum se usar uma "roda de aromas", na qual se faz uma
separação parecida, mas muitas vezes se tenta também estabelecer a
origem desses aromas.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Sabendo quais as famílias e os aromas que se encontram nos
vinhos, você começa a distingui-los e vai estabelecendo suas
preferências.
2 - OS AROMAS MUDAM COM O TEMPO:
Por origem, os aromas se separam em primários, secundários e
terciários. Os "aromas primários" são aqueles que vêm da uva e do
terroir diretamente, como os aromas florais e frutados. Os "secundários"
surgem no processo de vinificação, como os aromas de manteiga ou
fermento de pão. Os "terciários" se originam do envelhecimento na
garrafa, como os aromas
terrosos ou de frutas secas. Os aromas
primários e secundários são mais fortes nos vinhos jovens. Conforme um
vinho vai envelhecendo, esses aromas vão sumindo e vão se desenvolvendo
"aromas terciários". Caso se trate de um bom vinho e não estrague antes,
é claro. "Esses aromas mais
evoluídos" são o que se chama
"bouquet". Existem ainda os aromas defeituosos que ocorrem
principalmente por "contaminação" durante o processo de vinificação ou
por mau armazenamento.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Se você gosta de vinho frutado ou floral, não vá comprar um
vinho velho. Se gosta de um toque terroso, um aroma de frutas secas,
escolha um já com uma certa idade.
3 - TUDO COMEÇA COM A UVA:
Já ouvi dezenas de enólogos importantes dizerem que "seu trabalho
consiste principalmente em não estragar o produto que chega do campo".
Acho um certo exagero e um tanto de falsa modéstia, mas, de fato, os
aromas e outras propriedades do vinho dependem da "uva". Cada variedade
tem seus aromas característicos.
Eles se desenvolvem junto com o
fruto e mudam com o amadurecimento do "bago". Existe um ponto que os
enólogos consideram como o ideal de amadurecimento aromático, que muitas
vezes não foi atingido ou já passou no momento da colheita. Como assim,
alguém colhe a uva antes de ela ter
desenvolvido todos os seus aromas ou depois desses aromas terem começado a diminuir?
Em alguns casos, os produtores são obrigados a fazer isso porque o
"grau de açúcar" ainda não chegou no ponto ideal ou começou a subir
demais, o grau de acidez começou a baixar, os dois juntos ou aconteceu
uma tempestade de granizo, por exemplo.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Saber os aromas característicos das diversas uvas ajuda
muito na hora de sua escolha. O resto é mera curiosidade, porque de
qualquer forma você terá de confiar no que diz o rótulo ou a ficha
técnica para saber se o vinho tem uma boa "expressão aromática" ou não.
4 - A TERRA E O CLIMA MUDAM A UVA:
Uma mesma uva pode ter diferentes aromas dependendo do solo, do clima,
da quantidade de sol que recebe, da altitude e e de uma série de fatores
relacionados ao local onde foi plantada. Até o que está plantado no
terreno ao lado pode influenciar.
Não tem muitas provas
científicas de todas essas influências, mas a experiência mostra, por
exemplo, que vinhedos de regiões mais frias, como a Borgonha, rendem
vinhos com aromas de frutas frescas e vinhedos de regiões quentes, como o
Alentejo, dão vinhos com aromas de frutas madura, quase cheirando a geleia.
Onde o solo é mais rochoso, tende a aparecer o tal do aroma mineral.
Regiões com muitas horas de sol no período de desenvolvimento da fruta
facilitam um amadurecimento mais pleno e, portanto, uma maior
complexidade de aromas.
E assim vai.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Muita coisa, se você conseguir realmente dominar todos os
fatores. Isso aumentaria muito suas chances de prever o estilo de cada
vinho. Mas é bem difícil conhecer todos esses detalhes. Decore só a
história dos vinhos mais frescos ou mais maduros.
5 - A MÃO DO HOMEM:
A "natureza sozinha não faz todo o trabalho". Mesmo nos vinhos
orgânicos ou biodinâmicos, o produtor decide entre diferentes processos
de "vinificação e amadurecimento", e esses processos determinam a
diversidade, a qualidade e a "intensidade dos aromas".
O
primeiro trabalho do enólogo é evitar a formação de aromas
desagradáveis. Nos vinhos brancos, principalmente, os cuidados começam
logo após a colheita, mantendo a temperatura baixa para que não haja
"fermentação espontânea", evitando o contato do mosto com o oxigênio
para miniminizar aromas oxidativos, rançosos.
A fermentação do
mosto dos brancos, em geral, não é feita em contato com as cascas para
não haver excesso de extração de taninos, mas antes de iniciar a
fermentação, há o contato pelicular, por um breve período, para extrair
aromas. Nos tintos, o mosto fermenta com a casca, mas se houver um
período de contato antes da fermentação há uma potencialização dos
aromas.
Nos espumantes, o tempo de contato com as "leveduras" é
muito importante: quanto mais tempo o vinho ficar em contato com a borra
das leveduras (que são retiradas no fim do processo) maior complexidade
de aromas. O tipo de levedura selecionada, a temperatura da
fermentação, fazer ou não "fermentação malolática", tudo isso
influencia. Mas são detalhes muito técnicos.
Já o papel do "carvalho" no aroma do vinho é mais fácil de entender. Preste atenção em três fatores: a "idade", a
"origem" e a "tosta da madeira das barricas" ou tonéis por onde passou o
vinho. Um "barril de segundo uso" transfere menos aroma para o vinho do
que um "barril novo em folha". O carvalho francês passa um tipo de
aroma, o americano, outro. O barril de madeira é queimado por dentro.
Diferentes graus de queimado resultam em diferentes aromas. Veja uma
lista do que esperar nos vinhos tintos:
>>> "Tintos em carvalho francês" - côco, nozes, cravo, pimenta preta, canela, menta.
>>> "Tintos em carvalho americano": baunilha, noz-moscada,
castanha, coco, especiarias (cominho, sálvia), frutas secas.
>>> "Tintos em barricas de tosta leve": casca de banana, mel,
creme de cacau, chocolate branco, resina, madeira de serraria. média
>>> "Tintos em barricas de tosta média": amêndoa tostada, caramelo, chocolate, tabaco, café.
>>> "Tintos em barricas de tosta forte": pão tostado, fumo, folhas secas, grafite, chocolate preto.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Muito, cada detalhe muda tudo. Mas é impossível decorar
tudo. Concentre-se no que dá para lembrar: a influência do carvalho nos
tintos e o contato com as borras, ou lias, nos espumantes.
6 - NÃO É MÁGICA... É CUÍMICA:
As pessoas vivem me perguntando se um vinho tem aroma de frutas
vermelhas ou de chocolate porque puseram realmente frutas ou chocolate
no tanque na hora de fazer o vinho. Não!!!!
Vinho é feito apenas
de uva e levedura. Um vinho tem cheiro disso ou daquilo porque ele tem
compostos químicos idênticos ou similares a esses itens. O "Beaujolais
Noveau", por exemplo, tem cheiro de banana porque, assim como as
bananas, ele é rico em "acetato de isoamila".
Como eu disse lá
em cima, não é invenção e nem mágica, é... "química". Centenas de
compostos aromáticos presentes nos vinhos já foram identificados em
laboratórios. Ésteres, álcoois, aldeídos e cetonas, acetatos, lactonas,
cetamidas secundárias, compostos nitrogenados, compostos de enxofre,
éteres, furanos e epóxidos, um monte de nomes difíceis dos quais a gente
talvez tenha ouvido falar na escola.
Lembro de bem poucos deles. Mas, se os cientistas dizem que eles são os responsáveis por essa "mágica", a gente acredita.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> Mata a sua curiosidade e só...
7 - É PRECISO SABER APRECIÁ-LOS:
80% do prazer que se extrai de um vinho (tirando os momentos de
"euforia alcoólica"... é claro) vem de "seus aromas". Muito do que a
gente "considera paladar" é, na verdade, "aroma". Paladar é só doce,
salgado, amargo, azedo e o tal do "umami". Gosto de cereja é a
combinação do açúcar e da acidez da fruta agindo na boca com os aromas
que chegam pela via interna até o nariz.
Então, se você quer
aproveitar um vinho, outra bebida ou mesmo pratos mais complexos, "é bom
desenvolver o potencial de seu nariz". Ele não é pequeno. Estima-se que
o ser humano seja capaz de identificar 10 mil aromas diferentes. Esse
trabalho é feito em conjunto pelos receptores olfativos, que ficam na
cavidade nasal, e o bulbo olfatório, que fica perto, mas já no cérebro.
Lá as sensações são registradas e decodificadas.
Em primeiro lugar, é preciso respirar fundo, porque os receptores estão escondidos e protegidos na parte superior do nariz.
Em segundo lugar, mais importante, você precisa ter uma biblioteca de aromas na sua cabeça. Seu cérebro só
identifica um aroma se ele tem um registro muito claro desse aroma. E a
gente meio que se desacostumou de cheirar os alimentos.
Outro
dia, eu estava cheirando as frutas no sacolão aqui perto de casa e uma
mulher chegou ao meu lado e disse meio em tom de brincadeira:
>>> "Posso perguntar por que você está cheirando as frutas?".
>>> "Porque se elas não tiverem cheiro, não terão gosto de
nada", (respondi). Sugiro que, sempre que puder, você cheire frutas,
carnes, ervas, flores. E preste atenção nos aromas. Se puder colocá-las
numa taça de vinho... melhor. Isso concentra os aromas.
NO QUE ISSO MUDA SUA VIDA:
>>> "Muda radicalmente". Você passa a perceber aromas que nem
sabia que existiam. Começa a fazer ligações entre eles. E a experiência
de beber um vinho fica mil vezes mais rica.
(Banda Devassa - Rio de Janeiro, 18 de Junho de 2018).
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