sábado, 23 de junho de 2018

Banda Devassa - "Passeio Marítimo - Rio de Janeiro" (vídeo 03).



Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).

PEDRA NA VIDRAÇA !!!!

“Conto de escola”: corrupção, delação e o "tamborzão".

"Machado de Assis" era um perspicaz analista da condição humana. Em seus romance e contos, somos retratados com tintas nada positivas, mostrando como é verdadeiramente nosso caráter, ou melhor... "nossa falta de caráter".

Vejamos o “Conto de escola”, publicado no livro "Várias histórias". O narrador, "Pilar", assume que está longe de ser “um menino de virtudes”, tendo em vista que, depois de cabular a aula e receber por isso uma surra do pai, decide no outro dia comparecer ao colégio, mas só para não receber outro castigo.

Lá chegando, é interpelado pelo colega "Raimundo", filho do professor "Policarpo". Tentando ser discreto e se livrar dos olhos do pai, Raimundo demora em fazer o pedido ao amigo. Ambos têm medo da "palmatória" do mestre.

Quando consegue falar, diz a Pilar que tem em seu bolso uma "moeda de prata". O narrador confessa ao leitor que a moeda lhe “fez pular o coração”. Raimundo então diz que a moeda seria dele a partir de “uma troca de serviço":
"ele me daria a moeda e eu lhe explicaria um ponto da lição de sintaxe".
Tem medo de que o pai descubra que não conseguiu entender o conteúdo da aula.

Conta o narrador:
“Tive uma sensação esquisita. Não é que eu possuísse da virtude uma ideia antes própria de homem; não é também que não fosse fácil em empregar uma ou outra mentira de criança. Sabíamos ambos enganar ao mestre. A novidade estava nos termos da proposta, na troca de lição e dinheiro, compra franca, positiva, toma lá, dá cá; tal foi a causa da sensação. Fiquei a olhar para ele, à toa, sem poder dizer nada”.

"Pilar" aceita a moeda. Acontece que outro colega, o "Curvelo", disfarçadamente cuidava o movimento dos dois. Tal um grampo telefônico, o menino fica sabendo da artimanha dos colegas e os denuncia ao mestre, o juiz que aceita a "delação" e ainda tem como prova a moeda do bolso do aluno, o que os leva a serem julgados e "condenados à palmatória".

No outro dia, Pilar cabula mais uma vez a aula, desta feita para seguir um batalhão de soldados marchando ao som de um "tambor".

E conclui a narrativa:
“contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; mas o diabo do tambor...”.

Notar semelhanças com os dias em que vivemos "hoje"... especificamente na política, "não é mera coincidência". O conto, ambientado na década de 40 do século XIX, retrata o ser humano e sua "miséria moral", que começa já na escola. E há mais. Quando "Pilar" se distrai com a música fora do ambiente escolar e não vai à aula, podemos comparar com os alunos modernosos e seus enormes "fones de ouvido" escutando música geralmente de péssima qualidade, como a do “tamborzão” do funk carioca, e, o pior, desprezando a sala de aula e a "reflexão intelectual".

É isso o que faz a boa literatura. Passa-se o tempo, mas ela continua refletindo a atualidade e o comportamento humano de qualquer geração. Mudam-se os nomes, mudam-se os costumes, porém o ser humano continua igual...

(Banda Devassa).

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