Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).
21 de Junho de 2004.
Morte de Leonel Brizola (1922-2004).
"Leonel de Moura Brizola" (Carazinho - RS), foi um engenheiro civil e político brasileiro. Considerado um líder da esquerda e um político nacionalista, foi governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, sendo o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil.
Brizola nasceu no Noroeste gaúcho. Viveu seus primeiros anos no interior do estado, mudando-se para Porto Alegre em 1936. Lá, deu prosseguimento aos seus estudos e trabalhou como engraxate, graxeiro, ascensorista e servidor público. Ingressou no curso de engenharia civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1945, graduando-se em 1949. Enquanto ainda estudava na UFRGS, ingressou na política, ficando responsável por organizar a ala jovem do Partido Trabalhista Brasileiro. Em um evento político, conheceu Neusa Goulart, irmã do também político João Goulart, com a qual casou-se em 1950 e teve três filhos.
Em 1947, Brizola foi eleito deputado estadual pelo PTB. Tornou-se um político em ascensão no estado e foi eleito deputado federal, com uma votação recorde, prefeito de Porto Alegre e, em 1958, governador do Rio Grande do Sul. Como governador, tornou-se proeminente por suas "políticas sociais", além de por promover a "Campanha da Legalidade", em defesa da democracia e da posse de Goulart como presidente. Em 1962, transferiu seu domicílio eleitoral para a Guanabara, cujos eleitores elegeram-o deputado federal. Durante o governo de Goulart, mantiveram uma relação tumultuada, mas uniram-se novamente antes do golpe militar de 1964. Depois que suas propostas de resistência não foram bem-sucedidas, Brizola exilou-se no Uruguai.
"Brizola" voltou para o Brasil em 1979, depois de um exílio de quinze anos no Uruguai, nos Estados Unidos e em Portugal. Fundou e presidiu o "Partido Democrático Trabalhista", um partido social-democrata e populista. Em 1982, foi eleito governador do Rio de Janeiro, iniciando um programa de construção dos "Centros Integrados de Educação Pública". Na eleição presidencial de 1989, não foi, por pouco, para o segundo turno. Um ano depois, voltou a governar o Rio de Janeiro, tendo sido eleito no primeiro turno. A partir daí, não logrou êxito em nenhuma das quatro eleições que disputou, de vice-presidente de Luis Inácio Lula da Silva em 1998 a senador pelo Rio de Janeiro em 2002. Faleceu, em 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
MORTE:
>>> Depois de uma estadia em sua fazenda no Uruguai, Brizola chegou no Rio de Janeiro com infecção intestinal e forte gripe, contraída no rigoroso inverno uruguaio. Apesar de acamado, continuou a receber visitas de políticos, entre os quais Anthony Garotinho, Carlos Lupi e Moreira Franco. Sua situação deteriorou-se ainda mais e Brizola foi a um hospital nas proximidades. Uma tomografia dos pulmões mostrou infecção respiratória (pneumonia). Feita ultrassonografia do coração, nada de anormal foi encontrado. Brizola estava entrando no elevador para deixar o hospital quando, segundo seu médico particular, apresentou um edema no pulmão, significando grave insuficiência cardíaca. Novos exames confirmaram "infarto agudo do miocárdio".
>>> Brizola morreu às 21h20 do dia "21 de junho de 2004".
O Congresso Nacional adiou suas sessões para homenageá-lo, e o presidente Lula decretou luto oficial de três dias, comparecendo ao seu velório no Palácio Guanabara. No Rio de Janeiro, de acordo com a Polícia Militar, duzentas mil pessoas foram até o palácio do governo para prestar-lhe homenagens.
Em 24 de junho, depois de ainda ter sido velado no Palácio Piratini, em Porto Alegre, Brizola foi sepultado em São Borja, na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Cerca de vinte mil pessoas acompanharam o cortejo até seu sepultamento no Cemitério Jardim da Paz, onde também se encontram os túmulos de sua esposa, "Neusa", "Getúlio Vargas" e "João Goulart".
A morte de Brizola também repercutiu na mídia. A matéria veiculada na versão impressa do jornal Folha de S. Paulo classificou-o como "um dos principais líderes nacionalistas do país". O obituário do The Guardian resumiu Brizola como um "líder de esquerda carismático mas divisivo que dominou a política brasileira por meio século".
PERSONALIDADE, IMAGEM PÚBLICA E LEGADO:
>>> O legado de Brizola foi assunto para debates entre jornalistas, escritores e o público em geral.
Um de seus biógrafos, "João Trajano Sento-Sé", escreveu:
>>> "Se não chegou à Presidência da República, Brizola reeditou, ao menos, o martírio trabalhista, pelas perseguições que sofreu e pelos temores que despertou em parcelas das elites política e econômica".
O cientista político "Helgio Trindade" ressaltou que:
>>> Como governante, teve uma "obsessiva VALORIZAÇÃO da EDUCAÇÃO, que se traduziu em ambiciosos investimentos na área da expansão de prédios escolares".
O jornalista "Colin Harding", do The Independent, afirmou que: >>> Ele foi a "consciência da esquerda" do governo de Goulart.
O escritor "Ferreira Gullar" opinou que:
>>> Goulart estava "refém das forças que o apoiavam, particularmente o sindicalismo reformista, que promovia greves sucessivas em todo o país", e que Brizola, devido a sua pretensão de se tornar presidente e a campanha para suceder o ministro "Carvalho Pinto", tornou-o um "aliado involuntário dos golpistas".
Posteriormente, referindo-se às ações de Brizola no governo de seu marido, a primeira-dama "Maria Thereza Goulart" disse:
>>> "naquela época tocou um pouco de fogo no circo".
Outro político de expressão daquele período, "Abelardo de Araújo", ministro da Justiça, argumentou que:
>>> "não era fácil ao presidente governar com um Brizola a tiracolo, mas lhe era muito difícil libertar-se dele".
Brizola era reconhecido por sua fala, carregada do sotaque e de expressões gaúchas. Sua retórica era inflamada, não perdendo a oportunidade para "criar caricaturas verbais" de seus oponentes, como ao chamar Lula de "sapo barbudo", Paulo Maluf de "filhote da ditadura" e Moreira Franco de "gato angorá" por "ir de colo em colo".
Era um "orador carismático", capaz de provocar fortes reações entre partidários e adversários. Seu discurso era baseado em pontos como a "valorização da EDUCAÇÃO pública" e a questão das "perdas internacionais", termo usado para se referir ao pagamento de encargos da dívida externa e envio de lucros ao exterior.
Marcaram a carreira de Brizola os desentendimentos que teve com grandes monopólios da comunicação, em especial com a "Rede Globo". Brizola acusou o grupo de participar do caso "Proconsult", que visava impedir sua vitória na eleição para governador do Rio de Janeiro em 1982.
Em 1984, quebrou o monopólio da Globo nas transmissões de carnaval e, durante a eleição presidencial de 1989, se sentiu sabotado pela organização após esta ter "veiculado acusações pessoais" contra ele em rede nacional.
Em 1992, Roberto Marinho, em um editorial, chamou-o de "senil", resultando em "direito de resposta a Brizola no Jornal Nacional", que foi lido por "Cid Moreira", dois anos depois.
Em 2012, Brizola ficou na 47º colocação no concurso "O Maior Brasileiro de Todos os Tempos".
Em dezembro de 2015, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que "inseriu Brizola no Livro de Heróis da Pátria". Para que a inclusão de seu nome pudesse ser feita, o Congresso aprovou, e Dilma sancionou, uma mudança na legislação que reduziu o tempo mínimo de espera após a morte de uma personalidade para que uma homenagem deste tipo fosse autorizada, de "cinquenta para dez anos".
Três netos de Brizola entraram para a política defendendo suas ideias: Brizola Neto (PDT) foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e ministro do Trabalho no governo Dilma; Leonel Brizola Neto (PSOL) foi vereador do Rio de Janeiro; e Juliana Brizola (PDT) foi vereadora de Porto Alegre e deputada estadual do Rio Grande do Sul. (Banda Devassa).
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