quinta-feira, 28 de junho de 2018

Banda Devassa - "VLT PRAÇA MAUÁ" (Janeiro - 2017).



Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).

"COMPARAÇÕES ESPÚRIAS"
(Crônicas - Setembro/2012).

Houve um tempo (eu vivi esse tempo), em que se usava muito a expressão: “Calma que o Brasil é nosso!!!!” Hoje mudaram tais ditos. "Para pior"...

Ao elogiar algum feito é comum o desavisado concidadão exclamar: “Nem parece Brasil! Parece coisa de Primeiro Mundo!” Até mesmo quando se fala bem de alguma coisa neste nosso querido país, o elogio vem acoplado de uma pitada de crítica e comparação depreciativa com o "exterior-maravilha". Que me parece gratuita.

Não quero ter o monopólio de defender o Brasil dos comentários negativos. Eles devem ser feitos com o efeito de mostrar nossos pecados que são inúmeros. No entanto, devem-se ter bons argumentos e fundamentos para tal. O que me irrita é a gratuidade de tais comentários.

Por exemplo: sempre que se veem contrariadas, conheço pessoas que costumam exclamar: “Isto é Brasil!” Na defesa dos seus privilégios e interesses pessoais sobra para o nosso país.

É comum também ouvir considerações desairosas sobre o povo brasileiro, com o conhecido bordão: “Eta povinho vagabundo!” Não aceito essa pecha ao povo ao qual eu pertenço. Igual argumento deveria servir para quem assim se expressa.

Numa "reunião de botequim" comentava-se sobre a incompetência, a ineficiência, a ineficácia e a morosidade da Justiça num país europeu, tudo porque determinado interesse de um patrício não foi prontamente atendido, o que provocou uma reação imediata: “Ah! Quer dizer que eles lá são iguais a nós?!!!!”

Num noticiário televisivo que apresentava uma reportagem sobre a água no Piauí, abundante em poços artesianos mas desperdiçada em outras áreas do mesmo estado onde escasseava, a comentarista finalizou com uma opinião pessoal: “Isso é a cara do Brasil!”

Sem querer ser xenófobo e defender a qualquer custo o país, observo que se critica o Brasil mesmo quando ele é elogiado e em qualquer ocasião que permita uma comparação com o exterior. Trata-se de uma praga que assola o país, muito bem batizada por "Nelson Rodrigues" como "Complexo de
Vira-Lata".

Agora se é para entrar na onda de ceticismo e de depreciação, vamos lá. Olha a pérola que descobri outro dia:

“Os Estados Unidos não são o melhor país do mundo. Estão em sétimo lugar em taxa de alfabetização, 27º em conhecimento de matemática, 22º em ciência, 49º em expectativa de vida, 178º em mortalidade infantil, terceiro em renda per capita, quarto em força de trabalho e exportações. Lideram o mundo apenas em três categorias: percentagem de cidadãos encarcerados, número de adultos que acreditam que anjos são reais e em gastos de defesa: despendem mais que os 26 países seguintes somados, 25 dos quais são seus aliados”.

A frase é de um personagem da recente série televisiva americana “The Newsroom” (A Redação), citada pela Folha de S. Paulo, caderno Ilustrada, em 05/08/2012.

Dizer que os EUA só lideram o mundo naquelas categorias é, no entanto, forçar a barra. Isso prova o seguinte: eu não posso detratar o país mais rico do mundo colocando o dedo em alguma de suas chagas. Assim como não precisamos detratar o Brasil, vivendo sempre (e gratuitamente) a descascar feridas. Porque, afinal, elas existem, e como! Por que não nos compararmos com os nossos pares latino-americanos? Por exemplo: fomos os mais bem colocados desse grupo na recente olimpíada. Pena que tenhamos perdido o futebol para o México.

Um dito comum muito antipático é aquele que sempre se refere “a coisa do Primeiro Mundo”, quando se elogia algum feito brasileiro. O Primeiro Mundo também é invocado para criticar algum malfeito brasileiro. É ridículo! Olha o que escreveu o mestre "Carlos Heitor Cony":

>>> “Quando se usa essa expressão, dá-se a entender que no Primeiro Mundo ninguém morre ninguém tem dor de barriga ou de alma. Ledo e ivo engano!”

A maior facilidade tecnológica e financeira para ir ao exterior mais longínquo (principalmente Europa e Estados Unidos), porque o mais próximo (América do Sul) é geralmente desprezado, leva-nos a essas comparações. Contudo pouquíssimos são os que viveram no exterior, só conhecem, com os bolsos cheios, cartões de crédito no coldre prontos para serem sacados, com passagem de volta marcada, os pontos turísticos daqueles países. E voltam cantando loas, cheios de belas imagens fotográficas, inclusive para causar invejas aos que por aqui se quedam.

Agora corre na mídia o resultado de uma pesquisa feita pela ONU que coloca o Brasil como o "quarto mais malclassificado no quesito distribuição de renda na América Latina". Distribuição de renda não é igual à pobreza. Por que saímos tão mal na foto da distribuição? Porque somos o país mais rico da região e a riqueza está maldistribuída; precisamos distribuí-la melhor. E as coisas estão progredindo nesse particular. Pobreza existe, é lógico. Está na cara de todos. Podemos ser até o país que tenha a maior pobreza absoluta da América Latina porque também somos o de maior população. Mas acredito que não tenhamos a maior pobreza relativa.

Estatística é uma coisa que tem de ser bem interpretada. Se isso não se der ela se prestará para muita coisa, por exemplo, para alimentar nossos preconceitos ou defender nossos interesses criticando a quem nos faz oposição.

Considero isso produto de uma deformação maciça da mídia conjuntural (revistas ligeiras semanais e noticiários diários na tevê e nos jornais). Eu posso dizer isso porque sou um contumaz assistente e crítico desses jornais televisivos, que nos inoculam vírus de que espero estar vacinado. Não leio as revistinhas que enchem as caixas de correio das classes médias nos fins de semana e as salas de esperas de dentistas e médicos particulares. Aconselho aos leitores que se preocupem mais com os aspectos de longo prazo, com a história do Brasil que está sendo construída. "Interrompida que foi por governos elitistas", por duas longas ditaduras e, mesmo depois da Constituição Cidadã de 88 que nos devolveu o processo democrático, pela eleição de um play boy que foi defenestrado. Até a história que era detratada por historiadores retrógrados, está sendo revisitada, mostrando que não foi bem assim como contavam.

Quando eu nasci o Brasil devia ter bem menos do que 50 milhões de habitantes. Hoje beira a casa dos 200 milhões. Lembram-se da Copa do Mundo de 1970? “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção”. As dores do crescimento incomodam, e como! Tem gente que reclama até das obras de melhoramento urbano em nossas cidades para atender esse afluxo populacional!
“Estão cerceando o nosso direito de ir e vir” !!!!

Ultimamente pululam por aí as "Cassandras" que nos amedrontam com os possíveis desastres da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Com o medo de sairmos mal na foto a ser exibida para os gringos, a grande referência para muita gente.

É comum ouvir-se: “Imagina na Copa!” ou “Imagina nas Olimpíadas!”, quando se quer criticar nossos serviços públicos, telefonia celular, infraestrutura e aeroportos. A "Folha de S. Paulo", de 02-09-2012 (Caderno Ilustríssima, página 5), diz que o uso de tais bordões revela um comportamento acomodado e subalterno dos cidadãos brasileiros.

E eu, o que tenho a dizer?
Puxando pela memória: "Calma que o Brasil é nosso !!!!"

(Genserico Encarnação Júnior).

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