quinta-feira, 28 de junho de 2018

Banda Devassa - Rio. "Rádio CBN-Rio" - (Rio de Janeiro - 453 Anos). II

Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).

"AINDA COM ULYSSES"... (continuação e final).
Crônica - crônica - Agosto/2012.
Continuo, devagar quase parando, a leitura de "Ulysses". Não me dá o mínimo prazer. Literatura para mim, além de ser "cultura", é uma forma prazerosa de viver. Tanto como ler como quanto escrever. Definitivamente, por mais que tente, não estou gostando do livro. Aliás... estou detestando.

Usei uma estratégia. Pulei direto para a última parte, que é conhecida como o famoso "monólogo íntimo" ou "solilóquio de Molly", a mulher do personagem principal. Nessa cena, ela está deitada em sua cama de casal, parece-me que ao lado do marido dorminhoco, deixando a sua mente divagar. Esse final é chamado no quadro esquemático de "Penélope", a mulher de Ulisses, reencontrada na volta a Ítaca. No Ulysses, é quando termina o Bloomsday, o dia em que transcorre a ação do romance. Talvez, quem sabe, fosse mais animador ler essa parte. Qual o quê! É o mesmo tom enigmático do que havia encontrado antes. Não estou suportando. A palavra é essa mesma: "suportando". Meus frágeis ombros cedem ao peso das palavras desconexas. Minha mente nem confusa está.
"Está perplexa. E exausta".

Vou dar um tempo. É assim que dizem os "amantes" quando os esplendores dos amores começam a se esgarçar com a não consecução das "ilusões sonhadas". Esta é a última destas... "crônicas crônicas".

Enquanto isso...

"Aviso aos caminhantes"

O processo político na América Latina, desde o fim das ditaduras militares e do advento das maléficas influências do neoliberalismo nesta parte do mundo, apresenta resultados excepcionalmente bons. Tirando o que não presta, é claro!!!! Os novos governos populares aplacaram as demandas das camadas mais baixas da população. A situação é invejável com relação à polvorosa que reina alhures, inclusive na Europa.

O processo democrático fez eleger aqui grandes lideranças carismáticas da esquerda, tais como "Lula e Dilma", no Brasil, "Tabaré Vásquez e Jose Mujica", no Uruguai, "Michelle Bachelet" e seus antecessores depois do "Pinochet", no Chile, "os Kirchners", na Argentina, "Chaves", na Venezuela, "Evo Morales", na Bolívia, "Rafael Correa", no Equador e "Fernando Lugo", no Paraguai.

Mais recentemente "Ollanta Humala" no Peru. Quase todos exemplarmente execrados por nossa imprensa conservadora.
A única exceção ficou com a Colômbia que permaneceu entregue às direitas que "permitiram a existência de cunhas militares americanas em seu território"; o que talvez tenha sua explicação na atuação da guerrilha ultraesquerdista das Farc, que tem apelado inclusive para o tráfico de drogas. "A primeira mudança do quadro político na América do Sul foi a derrota dos socialistas no Chile", o que vem provocando distúrbios urbanos, com os estudantes lutando contra a entrega do ensino à iniciativa privada.

Surge agora, embora "travestida de democrática", a tentativa que apela para expedientes legais, mas não legítimos, de retomada do governo pelos interesses que o dominavam anteriormente. No processo ultrarrápido de impeachment do presidente "Fernando Lugo" no Paraguai descobre-se a possibilidade de "aí estar se chocando o ovo da serpente".
A também rápida reação dos demais países do Mercosul suspendendo a participação do Paraguai, até a volta da normalidade política no país, é tida como saudável, do ponto de vista de tentar evitar o pior, o alastramento do artifício.

E o que é o pior? O que pode estar sendo gerado naquele ovo? Esse perigo pode ser decorrente do sistema presidencialista existente em todos os países do subcontinente. Como é difícil vencer as novas lideranças populares nas eleições democráticas para presidente, começa-se a apelar para as eleições de parlamentares mais receptivos aos modelos da direita. Foi o que aconteceu no Paraguai e aí se explica a pressa rapace, a malandragem do processo relâmpago da volta do Partido Colorado ao poder. Foi mais difícil, no Brasil, cassar um senador da República, do que defenestrar um presidente no país vizinho.

"Consumo e consumismo"...

Um assunto que vem congestionando as pautas da mídia e o meu pensamento é o fenômeno da inadimplência da população. Principalmente a das mais emergentes classes econômicas, as C e D, que agora descobriram o crédito e a possibilidade de (como ousam !!!!) viajar de avião. Não se trata daqueles emergentes da Barra da Tijuca do Rio, mas do "povão" que emergiu para patamares imediatamente superiores de consumo. Procuro desvendar motivos subterrâneos "que podem estar por debaixo dos panos" na compreensão desse fenômeno.

Lembro-me muito bem do famigerado "Plano Cruzado" do "Presidente Sarney", que congelou todos os preços no país.
A população de classe média alta reclamava que os produtos nas gôndolas dos supermercados começavam a lhes faltar. Lógico que produtos foram estocados esperando a volta ao aumento dos preços, como a carne nos açougues, deflagrando a caça aos bois no campo. Mas a realidade é que o povão estava descobrindo o consumo e concorrendo com quem já consumia. Por exemplo, começou a consumir também vinhos e queijos roquefor. Algumas compras do último item teriam sido devolvidas com a explicação de que estavam mofados.

Aquela classe média reclamava que seus vinhos rareavam. Estavam na moda aqueles vinhos brancos suaves, de garrafas azuis e verdes, os "Liebfraumilchs da vida". Teve até um famoso economista "burguês" que se surpreendeu com a alta de consumo de "pasta de dentes e sapatos". Debochando perguntava:

>>> "será que tem gente usando três sapatos?"

Nada disso, preclaro financista: ao povão estava sendo permitido consumir o que não consumia anteriormente. Talvez fosse o caso da pasta de dente.

"Pena é que isso tenha durado tão pouco"... pela forma demagógica com que foi implantado o "pacotão". Agora, com a adoção de medidas sociais de mais consistência, a coisa tá funcionando melhor.

O medo "das zelites" é a invasão da praia deles. Esse neologismo e essa metáfora vieram-me à mente porque, quando morava no Rio, com a abertura dos túneis da Zona Norte para a Zona Sul, a permissão do trânsito dos ônibus urbanos por eles, "irritou muito os moradores da orla". Entre os argumentos utilizados é o de que pagavam os "altos IPTUs" dos belos edifícios praianos e, portanto não queriam a "concorrência dessa gente bronzeada suburbana". Hoje tem gente reclamando dos aviões e das salas de espera dos aeroportos coalhadas de gente:

>>> "parecem rodoviárias!!!!"... Que sejam !!!!

>>> “As empregadas domésticas de hoje têm os aparelhos de tevê mais sofisticados do mercado, os celulares de última geração, aparelhos eletrodomésticos que nós mesmos não temos!” (Não é raro ouvir isso).

O grande fantasma que está por trás do medo da inadimplência é a ascendência das classes sociais menos favorecidas.
O volume relativo de crédito não chega nem às bainhas das calças dos americanos. No entanto, os custos de nossos empréstimos são altíssimos comparados com os países ricos do hemisfério norte. Nossos juros facilmente ultrapassam a casa dos 100% anuais. "Os juros dos cartões de créditos e cheques-ouro são estratosféricos".

Os governos mundiais estão sempre prontos em atender aos agentes financeiros que provocaram as crises e à indústria de seus países, com milhões e bilhões de dólares equivalentes de ajuda para a recuperação. Vejam a ajuda americana e brasileira às fábricas de automóveis. Com esse exemplo, tenho a ousadia de pedir de igual forma uma ajuda, infinitamente bem menor, para resolver os problemas de inadimplência do povão.

Que tal? Isso não é permitido? Por exemplo... a criação de uma "bolsa inadimplência" (para quem não entendeu o meu humor, é lógico que isto é uma piada)! Talvez uma pressão maior, mais eficaz, sobre os juros por parte do governo e das instituições públicas fosse o caminho.

A "assombração" que deve ser combatida é a "praga do consumismo" e não a necessidade do consumo das classes mais carentes. Acredito que doravante essas políticas voltadas para o aumento do consumo venham a ser complementadas com outras visando aumentar o nível de investimentos da sociedade, especialmente em EDUCAÇÃO, ciência e tecnologia, infraestrutura e na indústria. Já vejo alguns sinais governamentais na alvorada brasiliense.

Palavras finais...

Fim das "crônicas crônicas". Abortei a "leitura do Ulysses". Pedi penico ao Joyce. Bati na lona pedindo o fim da luta. Você ganhou meu caro escritor. Para desintoxicar-me, releio "Crime e Castigo", de "Dostoiésvski". Isso sim, para mim, é literatura !!!!

FIM.

(Genserico Encarnação Júnior).

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