terça-feira, 16 de outubro de 2018

Banda Devassa - "Marina Julia" - Praça Marechal Mauricio Cardoso. Vídeo ...

Banda Devassa - Rio de Janeiro. (Cultura, Esporte e Lazer).


"MULATA LEOPOLDINENSE"...

A névoa da madrugada ainda envolve tudo, resistindo às investidas dos raios cálidos e dourados da manhã. Ela já está de pé, na casa de leopoldinense. Prepara-se para mais um dia.

Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela, menina, que se olha no espelho e que, aos poucos, vai transformando uma cara estremunhada num belo rosto, de traços marcantes, de pele morena e olhos meigos, brilhantes e vivazes. (Tudo isso sem o milagre dos cosméticos caríssimos), mas apenas com bom senso, bom gosto e os poucos produtos que seu parco ordenado permite comprar.

Espreguiçando, despe-se de suas roupas de dormir e observa o corpo esguio, bem torneado, sensual, de curvas caprichosas e bem localizadas. E vai se vestindo com roupas simples: lingerie bem adequada, em cores, textura e formato, que envolvem seu corpo e o tornam sedutor; uma blusinha modesta, mas que se adapta a suas formas, destacando as proporções perfeitas de seu talhe, onde o busto se destaca, (nem grande nem pequeno); uma calça jeans já bem usada mas que, no entanto, guarda beleza na simplicidade do azul desbotado que combina com tudo; uma sandália barata porém elegante, que lhe deixa quase inteiramente à mostra um pezinho bonito.

O tempo urge: um beijo na mãe se segue ao café simples preparado por essa mulher lutadora e zelosa guardiã da filha querida.

Sai de casa (Baixo-Penha) e sobe a Patagônia em direção a estação da Penha para pegar o seu trem. Atenta aos vultos e barulhos, tem o peito em sobressalto, forçada pela necessidade a expor-se nessa hora matinal. Ouve, como em todas as manhãs, a sinfonia de latidos de cães vagabundos, que duelam com outros cães, igualmente vira-latas, (mas que têm pelo menos o privilégio de um quintal).

O trem está apinhado, como sempre. Hoje, com a sorte de ter arranjado um lugar para se sentar, sucumbe em muitos momentos ao cansaço, com um cochilo reparador. Quando abre os olhos, tem de desviar o olhar dos olhares "impudicos" de homens que a fitam com se a despissem. Mas, vaidosa, percebe também os olhares interessadíssimos de muitos rapazes - (alguns até parecendo interessantes) - jovens lutadores como ela.

Mais de quarenta minutos depois, de cansaço, suor e sacolejos, ei-la caminhando pela grande avenida no centro da cidade...
É ela, menina, que vem e que passa, num doce balanço a caminho do trabalho.

Caminha a passos firmes; meneia naturalmente os quadris, sem movimentos calculados, sem afetação. E o seu balançado é mais que um poema; é a expressão de uma beleza real, de uma sensualidade natural. Só tem tempo de ceder um momentinho à vaidade: antes de entrar no prédio, olha-se na vitrine, que reflete a beleza da garota de leopoldinense.

No escritório, desdobra-se em gentilezas; aplica-se em favor da eficiência; e tem de conciliar a capacidade profissional com a simpatia pessoal. Lida com pessoas, e gosta disso. Seus dentes muito alvos, sempre à mostra em sorrisos constantes, ajudam a dar-lhe com vantagem o título de a garota mais bonita e mais simpática da empresa.

Além de cuidar do trabalho, de perseguir a competência, essa garota ainda tem de esquivar-se das inevitáveis cantadas, do assédio mal contido e do machismo sem rodeios. Isto sem falar na pontinha de inveja, às vezes mal disfarçada, de colegas
mal-amadas...

Fim do dia e lá vai a garota de subúrbio para mais uma jornada: do centro, de ônibus, ao bairro onde fica a faculdade em que estuda. Mais esforço, acúmulo de cansaço, empenho para aprender, conquistar um diploma para melhorar de vida.

E lá está nossa garota, desfilando sua beleza simples e sólida nas salas e corredores da faculdade, despertando o interesse e atraindo os olhares cobiçosos, lânguidos e desejosos de muitos colegas.

Depois das aulas, já noite adentro, a rotina da volta: o ônibus, o trem, já no Baixo-Penha, da uma passagem básica no quiosque do Gui-Gui na rua Patagônia para cumprimentar os amigos.

Finalmente, a acolhida materna, que se junta agora ao beijo de boa-noite do pai trabalhador, já sonolento diante da TV.

Garota da Leopoldina. Ah, se ela soubesse que, quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça, uma graça que ultrapassa de muito a beleza física e reflete o belo de sua dignidade, o magnífico de sua luta.

Você é um "tesão", garota leopoldinense. E o mundo fica mais belo por causa de você. Por causa do amor...

(Banda Devassa-Rio. 16/10/2018).

Nenhum comentário:

Postar um comentário