PARA QUEM VAI FAZER O "ENEM"...
VAMOS SOMAR CONHECIMENTO.
A frase bem traduz o sentimento de "Oswald de Andrade".
Os nossos primeiros poetas modernistas demonstraram abertamente o seu sentimento nacionalista. Exacerbado e até xenófobo. E essa aversão não era só a tudo que era estrangeiro mas também à "sintaxe lusitana". Era o desejo de valorizar o que é nosso, a nossa língua, a língua falada no Brasil.
Por muito tempo, em nossas escolas, os professores ensinavam como “erro” o uso de "galicismos". Era proibido falar ou escrever "abajur", "chofer", "detalhe"…
Éramos obrigados a substituir por "quebra-luz", "motorista" e "pormenor".
E o tempo provou que estávamos "enganados". Hoje, todos nós usamos – (sem culpa ou pecado) – abajur, chofer e detalhe. Temos até um belíssimo "réveillon", na sua forma original.
Agora o inimigo são os "anglicismos". Palavras e expressões inglesas infestam e poluem a nossa fala. Temos um festival de... (beach soccer, play off, delivery, shopping, brainstorming, software, marketing)... e tantos outros.
A presença de termos estrangeiros no uso diário de uma língua não é crime nem sinal de fraqueza. Ao contrário, é sinal de vitalidade. Só as línguas vivas têm essa capacidade de enriquecimento. A forte presença do inglês na língua portuguesa é reflexo da globalização, do imperialismo econômico, do desenvolvimento tecnológico americano etc.
Poderíamos citar muitas outras causas, mas há uma em especial que merece destaque:
>>> a paixão do brasileiro em geral pelas “coisas estrangeiras”.
Nós adoramos a grife, o carro importado, a palavra estrangeira. "Tudo dá status"...
É, portanto, um problema muito mais cultural do que simplesmente linguístico.
Valorizar a língua portuguesa, "sim"; fechar as portas, "não".
Qualquer projeto de valorização da língua portuguesa é louvável, mas é um absurdo criar uma lei que pode vir a punir o seu "João da esquina" porque escreveu "hot dog" em vez de "cachorro-quente".
Se aprovada, será mais um péssimo exemplo de lei a não ser cumprida neste país. Quem vai fiscalizar? Não somos capazes sequer de fiscalizar clínicas geriátricas…
Não precisamos de lei para proteger a nossa língua. Necessitamos, sim...
>>> "é de recursos para melhorar o nosso ensino"...
>>> "investir na EDUCAÇÃO"... talvez criar um "Instituto Machado de Assis", semelhante ao Instituto Camões, de Portugal, e ao Instituto Cervantes, da Espanha.
E aí você me pergunta: e a Barra da Tijuca? Eu respondo: qualquer semelhança com Miami não é mera coincidência.
E é contra isso, contra os exageros, contra os modismos, que devemos lutar. A nossa crítica deve concentrar-se no ridículo, no “desnecessário”. Para que "sale", se sempre vendemos?
Por que "startar", se podemos começar, iniciar, principiar?
Se podemos entregar em domicílio, para que serve o ridículo "delivery?"
O modismo a ser criticado é esta lista imensa de palavras e expressões inglesas para as quais "a nossa língua já está bem provida":
"beach soccer" (futebol de areia), "paper" (documento), "printar" (imprimir)…
O "aportuguesamento" de termos estrangeiros também é uma boa saída. É só lembrar o "futebol", o "blecaute", o "estresse", o "balé", o "filé", o "chope", o "espaguete"…
E o que fazer com o "dumping?"
Não conseguimos aportuguesar e não há em português uma palavra para traduzi-la:
>>> “é quando uma empresa faz preços abaixo do mercado para quebrar o concorrente”.
É demais... Nestas horas, o termo estrangeiro é bem-vindo, pois enriquece a língua. E há outros bons exemplos:
"ranking", "show", "marketing", "impeachment".
São palavras devidamente incorporadas à nossa língua cotidiana.
Portanto, nada de radicalismos. É importante valorizar a língua portuguesa, mas nada de "purismo e xenofobia"...
DÚVIDAS DOS LEITORES.
1ª) Qual é o feminino de “o artista” e de “o músico”?
Para o artista, basta mudar o artigo: a artista. Temos aqui, o que chamamos substantivo “comum de dois gêneros”.
É aquele cuja forma é a mesma para o masculino e o feminino, mudando apenas o elemento "determinativo".
Veja mais exemplos:
O jovem - a jovem;
O estudante - a estudante;
O devasso - a devassa;
O jornalista - a jornalista;
O artista - a artista.
Quanto ao músico, podemos usar a forma “o músico” tanto para homens quanto para mulheres. Quando isso acontece, o substantivo é chamado de "sobrecomum".
Veja mais exemplos:
O indivíduo (homem ou mulher);
O músico;
A criança;
A vítima.
2ª) Quando devemos repetir a conjunção “ou”. Em perguntas e afirmações ou só em afirmações?
Só repetimos a conjunção “ou” quando queremos deixar clara a ideia de exclusão e só podemos usar em frases afirmativas. Em frases interrogativas, não há a necessidade da repetição.
Observe melhor:
Frase afirmativa (=ideia de exclusão):
“Ou o diretor ou o gerente deverá viajar a Brasília”.
Frase interrogativa:
“O diretor vai ficar para a reunião ou vai viajar a Brasília?”...
Toda variante linguística é válida
Na antiga Roma, mais precisamente na região central da atual Itália, ficava o "Lácio", onde se falava o "Latim". Com a propagação do grande império romano, principalmente na Europa, o Latim passou a ser a língua oficial de muitas regiões. Foi assim, com o passar do tempo, que se formaram as "línguas neolatinas":
>>> o "italiano", o "romeno", o "francês", o "provençal", o "catalão", o "espanhol"… e, como disse o poeta "Olavo Bilac":
>>> "a última flor do Lácio": (a língua portuguesa).
Como toda língua viva, o português sofre mudanças não só com o passar do tempo mas também nas diferentes regiões onde é falado. Assim sendo, é natural que haja diferenças entre o português do Brasil e o de Portugal, o de Angola, Moçambique, Timor Leste… No próprio Brasil, são normais os "regionalismos":
>>> "o gauchês, o baianês, o cearês"…
Nada disso tem a ver com certo ou errado.
Todas as variantes linguísticas são válidas e aceitáveis dentro do seu contexto. É muito pobre reduzirmos tudo a uma simplista discussão de certo ou errado. A beleza da língua portuguesa está na sua variedade, na sua riqueza vocabular, nos seus mistérios.
O mais incrível e ao mesmo tempo lindo é que o brasileiro entende o angolano e que o sertanejo se comunica com o gaúcho da fronteira. As variedades só enriquecem a nossa língua, que não perde sua "unicidade básica".
Além das diferenças regionais, temos as variantes linguísticas que caracterizam diferentes grupos.
No “policialês”, todo ser humano vira “elemento” e todo carro é “viatura”.
No “futebolês”, seu time tem que “correr atrás do prejuízo” para “fazer o dever de casa” e, assim, “fugir do fantasma do rebaixamento”.
No "teleatendimento"... “nós vamos estar analisando seu problema”, depois “vamos estar retornando sua ligação” e, por fim, “vamos estar enviando a resposta”.
“A nível de executivo"... é preciso “alavancagem de vendas” e “fidelização de clientes”.
No “internetês”... “tb axo q vc naum eh burro”.
E assim vai… temos ainda o “juridiquês”, onde tudo é procrastinado, o “economês”, que adora um “nicho de mercado”, o “trafiquês”, o “surfês”…
Tudo isso é interessante e curioso. Todas essas variantes linguísticas são válidas e têm sua utilidade, mas não devemos esquecer que, por trás de todas elas, há uma língua portuguesa comum, básica, padrão. É a língua geral.
É aquela que faz com que todos esses grupos se comuniquem e se entendam.
DÚVIDAS DOS LEITORES...
1ª) - O correto é “não tem a ver” ou “não tem que ver”?
>>> Tanto faz... O fato de a expressão “não tem a ver” ser um "galicismo" não é crime. Já se foi o tempo em que os galicismos eram considerados “erros”.
Palavras como atelier, abajur, chofer, detalhe e tantas outras já estão devidamente registradas em nossos dicionários e são plenamente aceitáveis. Portanto, não se sinta um criminoso por preferir a forma “não tem a ver”.
2ª) Leitor tem dúvida quanto ao uso do acento da crase em “candidatos a vereador” e “candidatos à reeleição”.
Vejamos a diferença:
a) - Candidatos a vereador (sem o acento da crase);
b) - Candidatos à reeleição (com o acento da crase).
A diferença é que no primeiro caso não há o "artigo definido". (Vereador), além de ser um substantivo masculino, está tomado no sentido genérico, isto é, sem artigo definido. No segundo caso, ocorre a crase, porque temos o artigo “a” feminino que define a reeleição, mais a preposição “a”. No masculino, corresponderia a “candidatos ao cargo”.
3ª) Leitor quer saber:
em “O parcelamento não poderá ser pago a perder de vista”... esse “a” é craseado?
É impossível haver crase antes de verbos, por um motivo muito simples:
>>> "jamais haverá artigo antes do verbo". Temos apenas a preposição “a”. Observe melhor:
“…a perder de vista”;
“…a partir das 10h”;
“…começou a chorar”;
“…prefere sair a ficar em casa”.
4ª) “Os filhos têm de obedecer aos pais ou obedecer os pais?”.
O verbo OBEDECER é "transitivo indireto", portanto “os filhos têm de obedecer aos pais”.
5ª) Qual é a diferença entre INVERTER e REVERTER?
Na frase:
>>> “O Cruzeiro fez três gols no primeiro tempo e ficou difícil para o Náutico INVETER ou REVERTER o resultado?”
Rigorosamente, “ficou difícil INVERTER o resultado”, e não “reverter” como estamos acostumados a ouvir. Se um clube está perdendo e precisa ganhar o jogo, só invertendo o resultado, ou seja, INVERTER significa “mudar para o oposto”. REVERTER significa voltar ao ponto de partida.
Uma situação irreversível é aquela que “não tem volta”. Reverter o quadro político ou econômico significa “voltar à situação anterior”. Em geral, não é isso o que se quer dizer. Queremos, na verdade, é inverter a situação, ou seja, se está ruim queremos que a situação fique boa.
Ocorre crase em “a vista, a venda e a porta”?
VOCÊ SABE…
…qual é a origem dos "quintos dos infernos?"
"Quinto"... como todos sabem, é o numeral ordinal correspondente a cinco: “O brasileiro chegou em quinto lugar”. Como numeral fracionário, corresponde a cada uma das cinco partes iguais em que pode ser dividido um todo:
>>> “Comeu um quinto do bolo”.
No período colonial, o "quinto" correspondia ao imposto de 20% que o erário português cobrava sobre o ouro, a prata e os diamantes extraídos do "solo brasileiro".
Quintos é um substantivo masculino plural, e significa “um lugar muito distante ou desconhecido”. Os quintos (sempre no plural) estão geralmente associados ao inferno, daí mandar alguém para “os quintos dos infernos”.
É interessante notar que falamos dos "quintos dos infernos", e não do “quinto” dos infernos, uma vez que (acho !!!!) não estamos nos referindo "aquele inferno" que fica entre o quarto e o sexto inferno, muito menos à quinta parte do inferno…
Segundo o dicionário Houaiss, a expressão “ir ou mandar para os quintos” vem de “ir na nau dos quintos”, ou seja... ir degredado para o Brasil (a nau dos quintos era a que levava à metrópole o "imposto de 20%" sobre os metais preciosos).
Por isso, “ir para os quintos” significava ser banido para esse lugar distante e desconhecido, que era o Brasil.
Acredite... “os quintos dos infernos” era o Brasil !!!!
(Banda Devassa - Rio. 04/11/2018).
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